Articulista Margot Carvalho: sua nova crônica Morte Súbita
Se eu morresse hoje, despertaria a ira
Daqueles com quem trabalhei
Roubei histórias que não me pertenciam
E como escritora as divulguei
Não teria problemas com alguns personagens que não ridicularizei
Mesmo porque compartilharia da panelada de frango ao molho pardo do aniversário de Dona Placídia
Dos sete frangos assassinados pela mentira do marido malvado
Essa sim, a mim agradeceria
Mas do coitado do Felizberto, não escaparia, mesmo porque
Sem piedade alguma, contei sua triste história
com prazer e alegria
esse sim, acertaria contas comigo e certamente me mataria
Sem papas na língua, muitas verdades falei e é nessa hora
Que vem minha redenção, posso falar
Com lisura
Verdades, mentiras…
Utilizo da palavra
Sem censura
Devaneios, percorrem meu dorso
Contaminam meus neurônios
Gotejam sobre linhas e linhas…
Deixando histórias dum mundo irreal,
Mas que tornar-se real
E nessa hora navego em palavras assistemáticas
Decompostas entre meus dedos que deixam escapar
Sem preconceito, histórias, romances, crônicas, contos, poemas
Concretizados na memória sonhadora do escritor
Que sofre, sofre. Sofre… dá ao personagem destino trágico, é necessário…
Fugindo da mentira tornando-a verdade
Com veracidade, intensidade, cria a família…
Por quê?
Na sua realidade, cada personagem é para sempre
Parte integrante de seu destino